A onda de laicização que vai pelo mundo parece querer pôr em causa a liberdade de qualquer cidadão poder celebrar as Festas religiosas decorrentes do seu Credo.
O artigo de
António Marujo no Público de hoje é significativo do que vai por aí a este respeito. Esquece-se que o respeito pelas várias religiões não passa por ignorar as festas religiosas de cada uma mas, pelo contrário, por respeitar e considerar os ritmos próprios de cada.
Transcrevo o artigo (já que o Público é de acesso reservado a assinantes) e sublinho os comentários dos ministros ingleses a este respeito: "Uma iniciativa insensata como outras tomadas em nome do politicamente correcto" para John Reid; "uma parvoíce politicamente correcta" para Jack Straw que ainda disse nunca ter encontrado "um cristão incapaz de reconhecer o Yom Kipur [judaico], o Eid [muçulmano] ou o Diwali [hindu], nem nenhum muçulmano que me recuse o direito de celebrar o Natal." Ou a posição do Fórum de Cristãos e Muçulmanos do Reino Unido que afirma que "a vontade de laicizar as festas religiosas é, ela mesma, ofensiva para as nossas duas comunidades".
Por mim apenas me vem à cabeça perguntar à Associação República e Laicidade quantos professores estarão habilitados para "trabalhar", para "analisar" e "aprofundar", com as crianças que têm sob a sua tutela pedagógica a nova TLEBS e lembrar que a Revolução Francesa também quis acabar com o calendário tradicional, impondo
o calendário revolucionário francês, mas que rapidamente (o que são 13 anos à escala da História?) os Brumários voltaram a ser Novembros...
Quando festejar o Natal é proibido
António Marujo
Espanha, Reino Unido e Estados Unidos com polémicas sobre comemorações natalícias para não ofender não-cristãos
Festas de Natal proibidas numa escola em Saragoça (Espanha) para não ofender crentes não-cristãos, empresas que não querem festas natalícias no Reino Unido, árvores de Natal removidas e depois recolocadas no aeroporto de Seattle (EUA) na sequência de polémicas sobre as decorações. O Natal, festa que comemora o nascimento de Jesus Cristo, está a ser limpo da sua raiz, com argumentos como o pluralismo e a laicidade.
No Reino Unido, a polémica já levou à intervenção de dois ministros. O Fórum de Cristãos e Muçulmanos reagiu também, alertando para o risco de a proibição de festas alusivas à quadra provocar reacções anti-islâmicas. Diversas empresas e colectividades interditaram as celebrações natalícias com o argumento de que não queriam ferir os não-cristãos. Mas a decisão arrisca-se a provocar ricochete.
"Aqueles que utilizam o pluralismo religioso como desculpa para descristianizar a sociedade britânica provocam um antagonismo para com os muçulmanos e os outros, impondo-lhes um calendário anti-cristão que eles não controlam", considerou o fórum. "A vontade de laicizar as festas religiosas é, ela mesma, ofensiva para as nossas duas comunidades.
"Em causa estão vários episódios vindos a público. David Gillett, bispo de Bolton (noroeste de Inglaterra) e membro do fórum, citou o caso de uma importante empresa que ordenou aos seus funcionários que não desejassem "Feliz Natal" aos seus clientes, mas apenas "boas festas". Um inquérito feito em Novembro revelou que três empresários britânicos em cada quatro proibiram decorações alusivas ao Natal.
Há quinze dias, o The Sun, citado pela AFP, contava que uma escola tinha abandonado uma representação tradicional representando a Natividade, promovendo em seu lugar uma versão reggae de um canto de Natal. Numa outra, o requinte poderia ter chegado à culinária, com a troca, depois abandonada, do peru tradicional pelo frango.
Posições políticas
Os casos conhecidos motivaram a reacção de dois ministros: John Reid, do Interior, considerou "insensatas" tais iniciativas e que já há decisões de mais pretensamente tomadas em nome do "politicamente correcto". Jack Straw, responsável dos Assuntos Parlamentares, foi mais longe ao considerar estes casos como "parvoíce politicamente correcta": "Nunca encontrei um cristão incapaz de reconhecer o Yom Kipur [judaico], o Eid [muçulmano] ou o Diwali [hindu], nem nenhum muçulmano que me recuse o direito de celebrar o Natal."
Em Espanha, foi a escola Hilarion Gimeno, de Saragoça, que decidiu que este ano não haveria festas natalícias, para não incomodar crianças de outras religiões. Nos EUA, na semana passada, a polémica foi outra: no aeroporto de Seattle, depois da queixa de um rabino judeu que queria ver também a lâmpada de Hanukkah (ou Festa da Dedicação, que este ano se assinala até ao próximo dia 23) ao lado das árvores de Natal.
Os responsáveis do aeroporto resolveram retirar as árvores, mas depois recolocaram-nas. O rabi Elzar Bogomilsky sublinhou, no entanto, que nunca quis que as árvores fossem retiradas. Antes ficou "triste", referia a BBC on line, com a decisão de remover as decorações natalícias. Depois de esclarecida a queixa, as árvores natalícias voltaram a iluminar o aeroporto. Já o candelabro de Hanukkah ficará para o próximo ano.
Em Portugal, a Associação República e Laicidade resolveu protestar com a lembrança dos factos históricos que estão na origem do Natal. Em causa está a revista Professores do 1º e 2º Ciclos do Ensino Básico. No seu número de Dezembro, a publicação decidiu apoiar os professores que queiram desenvolver uma "Representação do Nascimento de Jesus".
Citando excertos do texto sugerido na revista, a associação pergunta: "Quantos professores estarão habilitados para "trabalhar", para "analisar" e "aprofundar", com as crianças que têm sob a sua tutela pedagógica, as questões que aquele "simples" auto de Natal pode facilmente suscitar?"