quinta-feira, março 22, 2007

Doutores e engenheiros...

A excessiva importância que neste país se dá aos títulos académicos é bem característica da maneira de estar portuguesa. Todos somos doutores ou engenheiros e se alguém não o é, vamos mas é tratá-lo por doutor que doutra forma não é gente. Entretanto Bolonha vai dar-nos licenciados com três anos e as habilitações mínimas para o mercado de trabalho passarão a ser o 12.º. E o número de Dr.s (nesta acepção, claro, porque doutores de doutoramento, por extenso, vai havendo apenas alguns que na prática do tratamento nada se distinguem dos outros) vai aumentando e generalizando-se. É a democratização do tratamento.
O meu curso de engenharia é do tempo em que o currículo se estendia por SEIS (!) anos lectivos. Continuo a ser licenciado em engenharia (e, já agora, também "engenheiro" porque estou inscrito na Ordem e o meu curso é automaticamente reconhecido para tal). Não me envergonho da preparação que o meu curso me deu, mesmo quando a comparo com os currículos actuais dos Mestres (dois anos para além da licenciatura de três). Mas lá por isso não me intitulo Mestre, nem quero que me tratem como tal.
A história que o Público hoje investiga (as reais habilitações do Primeiro Ministro) já a conhecia de blogues e mails que circulavam na net. Não me preocupa nada que o país tenha um Primeiro Ministro sem licenciatura: para ser político e para fazer política não é necessária licenciatura e bons ministros e secretários de Estado já houve que não tinham esse grau académico. Ou até, como faz a Nota da Direcção Editorial do Público, é bom lembrar grandes figuras da política europeia que não o eram - caso de Jacques Delors. E que não são menos respeitadas por isso nem a falta de licenciatura foi obstáculo a que exercessem bem os seus cargos.
O que realmente me preocupa nesta história é que o Primeiro Ministro permita que o seu Gabinete ou a sua agência de comunicação difundam sobre ele informações pessoais cuja comprovação levanta este tipo de dúvidas.

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