Terapia da fala
É pena o Expresso não estar on line sem ser por assinatura, pois então um simples link chamaria a atenção para a excelente “Crónica Feminina” de Inês Pedrosa na revista Única (n.º 1716, 17.09.2005). Escreve acerca da má-língua em Portugal e em como ela substitui a própria leitura. Um pequeno excerto:
Quantos dos que compraram o Ensaio sobre a Lucidez, de Saramago, ou. este ano, as edições luxuosas do D. Quixote.., de Cervantes, os leram efectivamente ? À maior parte, bastou-lhes ter ouvido falar. Têm lá em casa, para ler na reforma – cada vez mais longínqua -, mas são capazes
de jurar a pés juntos que leram, assim como podem ficar três horas a discutir se quem merecia o Nobel era Saramago ou Lobo Antunes sem sequer lhe terem posto a vista em cima. É por isso que nem as biografias vingam por cá. A nossa movida faz-se do “ouvir dizer”, do “dar uma vista de olhos”, do “lamiré” e do “tenho a impressão”. Ouve dizer-se que Fulano chegou a administrador porque é amigo de Sicrano, faz-se constar que Beltrano fez um doutoramento na famosa Universidade da Saint Isotrope, e assim por diante.
Isto é bem verdade. Nas rádios ou televisões podemos apreciar que a maior parte das intervenções se baseiam muito mais no “ouvir dizer” e no “tenho a impressão” do que no conhecimento aprofundado das matérias abordadas. Neste “country of last things” em que a banalização e a mediocridade são cada vez mais generalizadas, em que todos têm opinião sobre tudo, são cada vez menos os que mostram que sabem realmente do que falam.
1 Comments:
Exactamente! E é pena porque não há nada melhor do que falar com quem sabe do que está a falar: aprende-se sempre qualquer coisa de novo.
Beijos
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